sexta-feira, 21 de setembro de 2012
É pra falar de vegetarianismo? Uma abordagem social, ambiental e política.
FALTA INSERIR A QUESTÃO POLÍTICA DO CONFLITO NORTE-SUL NESTE TEXTO
Escrevi este texto em julho deste ano (2012) para o meu blog "Conscientização através da ciência" que foi um verdadeiro fiasco, pois a quantidade de acessos foi completamente vergonhoso...Agora venho postar aqui no Itinerário Interno, blog
que já tenho uma boa quantidade de visitantes.
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Pela influência da internet houve uma maior divulgação a respeito dos diversos tipos de barbáries contra os animais cometidas pelo homem. Acessamos o facebook e vemos centenas de posts referentes a estes atos, assim como “milhões” referentes ao amor que devemos ter para com eles. É bonitinho e comovente, mas assim que a pessoa ver uma história de quadrinho engraçada a imagem com tal mensagem anterior irá desaparecer completamente de sua cabeça.
Aumentam os grupos de defesa animal e esta pseudopreocupação na sociedade a cada dia, tenho um projeto em mãos que trata da referida temática e após meses ainda não consegui espaço nem pessoa aptas a leva-lo adiante. Neste domingo 24/06 conversei com uma das responsáveis por um grupo de jovens de uma determinada igreja, percebi que não há espaço para qualquer ação que não seja referente à religião, nas escolas os responsáveis também não demonstram qualquer interesse para divulgar tal ação para a comunidade escolar… Não há necessidade de qualquer investimento por parte deles, e mesmo assim nada, a necessidade é apena de um local com um grande número de pessoas, principalmente jovens. Esta ação não é focada no vegetarianismo, mas no direito animal como um todo, das formas de exploração e leis vigentes nos mais diversos locais do mundo, mas isto não é o ponto que quero tratar neste texto.
Muito se trata a respeito de toda e qualquer forma de abolição aos maus tratos e exploração acometida contra os animais, frente a este fato vemos a cada dia crescer o número de vegetarianos que se sentem “sensibilizados” com esta situação, é comum a afirmação: “os animais são nossos amigos, e não devemos comê-los!”. É até cômico, será que quem toma tal atitude não consegue ver que o vegetarianismo não passa de uma irrisória fração de menos de 0,001% de você realizar algo para mudar tal situação?
Antes de tudo quem vos fala é uma vegetariana, venho por meio deste texto abordar uma temática que ainda não está visível para quem pretende se tornar um vegetariano ou mesmo para quem não possui qualquer interesse neta prática. Achei bom resaltar minha posição, para que este texto não pareça ter sido feito por um onívoro revoltado.
É muito fácil você achar um grupo que lute pela causa animal em busca de direito e contra o especismo (achar que uma espécie é melhor do que outra). Você pode conhecer as ações de alguns grupos ou indivíduos e verá apenas a pregação do “SEJA VEGETARIANO”, porém não nada além daquilo, devemos ser capazes de construir opiniões sólidas, plausíveis e relevantes quando alguém questiona ou argumenta determinadas situações.
Não basta você pregar para uma pessoa que ela não deve comer um animal, “pois eles são amigos!”, quem ouvir pode até rir frente a tal argumento infantil. Deve haver toda uma informação a respeito de alternativas as demandas nutricionais que temos (que realmente existe), assim como toda a questão por trás da pecuária, criações de aves, pesca predatória, etc. E o que estas práticas causam de impacto a nível social, ambiental e político. Sem contar uma questão da influência da história do desenvolvimento das religiões, o que influenciou bastante, havendo uma grande influência nos hábitos alimentares entre o ocidente e o oriente, mas não tratarei de tal questão aqui para não haver desavenças.
Há um caminho enorme, além disso, as ações não devem ser focadas apenas na questão alimentar, pois esta é a mais difícil de mudar já que o consumo de carne é um hábito milenar na sociedade. O mínimo que for feito para mudar o nível de impacto no meio ambiente como um todo já é um passo, como: ações que estimulem a reciclagem, meios alternativos de produção de energia, reaproveitamento de áreas degradadas para cultivo de vegetais, etc. Podemos diminuir em muito a exploração animal, não vou ser ingênua e dizer que chegaremos a um posto que haverá total abolição, pois frente ao avanço atual, em frente ao tamanho da população mundial, isto se torna extremamente utópico.
A seguir algumas abordagens referentes a esta temática, vale ressaltar que quando falo “O consumo de carne” estou me referindo à carne proveniente de gado e de alguns animais aquáticos.
O consumo de carne e a água:
Que tipo de relação pode haver entre o consumo de carne e a questão da escassez da água? É um assunto que comumente vemos ser divulgado na mídia, mas não há um esclarecimento sobre os motivos dos impactos.
Em 2004, o Instituto Internacional da Água de Estocolmo publicou um relatório relacionando o perigo da escassez de água e o consumo desenfreado de carne da população mundial. Mas qual seria esta relação?
Há uma grande demanda de água para a pecuária, segundo pesquisas da Embrapa, para a produção de um quilo de carne bovina são gastos cerca de 15 mil litros de água, este gasto se dá por meios como: manter a quantidade hídrica necessária no corpo do gado para manutenção do metabolismo (a água no bovino representa cerca de 65% do peso do corpo), construção de açudes, irrigação do pasto, banho, limpeza dos abatedouros, cultivo de grão para alimentar o gado, etc.
Segundo pesquisas da Universidade de Cornell, nos EUA, a dieta americana gasta em média 5,4 m³ de água por dia, o dobro de uma dieta vegetariana, por exemplo, para produzir meio quilo de batata é usado cerca de 227 litros de água, enquanto que para produzir 100 grama de bife é usado 7 mil litros.
Para se obter um nível sustentável para o consumo da água se faz necessário mudar o hábito alimentar da sociedade, diminuído a demanda de certos produtos. Uma dieta com menos carne, mais frutas, verduras e legumes além de ser mai saudável também economiza água.
Em relação aos animais aquáticos vou tratar mais especificamente sobre os peixes.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 150 zonas entre mares e oceanos do mundo são consideradas “zonas mortas”, pois não há qualquer tipo de vida nelas, isto é um resultado da falta de oxigênio nessas áreas. Isso ocorre devido à contaminação intensa de fertilizantes agrícolas e poluição industrial, que chega a atingir até 70.000 km² em algumas áreas. Esta contaminação por metais, como mercúrio, afeta consideravelmente o ecossistema, e vai aumentando a concentração nos organismos dos animais conforme aumentar o nível dos organismos na cadeia alimentar.
Somado a este problema temos o crescimento descontrolado da pesca predatória industrial, segundo dados deste programa, existem circulando pelos nos oceanos o dobro de barcos necessários para haver uma pesca sustentável. O estoque de peixes tem diminuído a nível mundial, porque sua produção não está acompanhando o ritmo da pes
ca e somente 0,01% dos oceanos está interditado para a atividade pesqueira.
A poluição ambiental e a fome
Segundo um estudo feito pelo Centro de Pesquisas Florestais Internacionais em 2010, 2,5 milhões de hectares da floresta amazônica legal brasileira foram destruídos e hoje a pecuária é o principal veículo deste desmatamento. A maioria da carne produzida nos países da América Central é para abastecer as indústrias de fast-food nos EUA.
Muito se critica esta produção de soja que desmata a Amazônia, porém não é divulgado o verdadeiro destino do grão. Grande parte deste desmatamento da Amazônia se deve para o cultivo de grãos, principalmente de soja, que são produzidos para alimentar o gado, ou seja, a soja é uma rica fonte de proteína (e seria uma ótima opção para alimentar uma boa parte da população), porém a população pobre continua desnutrida e sem acesso a carne. Esta mesma situação acontece com o milho, onde a maioria da produção é destinada para o consumo animal. Então, se você se alimenta de carne, inevitavelmente estará estimulando esta produção.
Segundo dados do IBGE, um boi produz em média 210 kg de carne após 5 anos utilizando um espaço de 4 hectares de terra. Neste mesmo tempo e espaço poderia ser produzido: 8 toneladas de feijão, 16 de arroz, 32 de soja ou 23 de trigo.
Segundo dados da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) o setor de abate é o segundo maior responsável pela emissão de gases causadores do efeito estufa, ficando atrás apenas das emissões industriais. Hoje, temos o Brasil ocupando o 4° lugar entre os países responsáveis pelo efeito estufa, isso devido, principalmente ao desmatamento da Amazônia para a criação de gado e produção de grãos.
Ainda temos outro problema que agrava a situação do meio ambiente, a produção de alimentos transgênicos, que de acordo com a ANVISA e o IBAMA, a liberação no Brasil foi feita sem os devidos estudos de impacto a saúde e ao maio ambiente.
Estamos em frente a uma situação de calamidade, pois a produção de carne vem crescendo cada vez mais e com ela a necessidade de áreas para o plantio dos alimentos para os animais. Porém ainda temos boa parte da população longe desta produção, ou seja, boa parte da população ainda vive em condições de subnutrição. Segundo o filósofo Willian Stephens, PhD na Universidade de Creigthton, se diminuíssem em 10% o consumo de carne por um ano, teríamos 12 milhões de toneladas de grãos disponíveis para o consumo humano e segundo Sergio Greiff, coordenador da sociedade vegetariana brasileira, se 0,3% dos grãos utilizados fossem utilizados para alimentar humanos, seria possível salvar da desnutrição cerca de 6 milhões de crianças menores de 5 anos.
Agora vamos ser realistas, como competir com as decisões dos governos? É simples, ir contra estas políticas é uma decisão de cada cidadão para que assim haja uma mudança em grande escala. O atual modelo agroexportador incentiva a produção de carne voltada para os mercados internacionais, tendo a Venezuela como principal comprador, pois é este investimento que garante o aumento da economia do país, fazendo com que hoje o Brasil esteja entre os maiores exportadores de gado “em pé”.
FALTA INSERIR A QUESTÃO POLÍTICA DO CONFLITO NORTE-SUL NESTE TEXTO
Então, após 4 páginas de críticas e argumentações contra a produção de carne e o impacto causado a nível social e ambiental, como fazer para mudarmos a alimentação? De que se alimentar após cortarmos a carne da alimentação? Existem alimentos que irão suprir todas as nossas necessidades nutricionais?
A partir deste ponto passarei a fazer abordagens referentes as alternativas alimentícias que temos, porém deve haver um interesse do indivíduo em ir atrás dos seus alimentos. Uma alimentação vegetariana não apenas estará contribuído para diminuir o impacto ao meio ambiente como também garante melhor saúde para quem adquirir tal dieta.
A alternativa vegetariana
É muito comum ver em guias nutricionais a recomendação para diminuir o teor de gorduras da alimentação, principalmente as saturadas, e que devemos no alimentar com mais frutas, verduras, fibras, grãos e legumes. Em junho de 2003 a Associação Dietética Americana publicou um estudo que prova que uma dieta vegetariana é capaz de suprir todas as necessidades que temos de proteína, ferro, cálcio, vitamina D, vitamina B12, vitamina A, ácidos graxos, ômega 3 e iodo. A dieta vegetariana além de ter um baixo teor de gordura saturada e colesterol, ao mesmo tempo contém um alto teor de carboidratos, fibras, magnésio, potássio e antioxidantes como as vitaminas A e C.
Ainda segundo este estudo há a confirmação que uma dieta vegetariana não somente contribui para uma melhor saúde, mas também pode prevenir e curar doenças.
A carne é uma ótima fonte de proteínas, lipídios, ferro, minerais, zinco e ômega 3 (peixes), mas onde encontrar em alimentos vegetais? No próximo post vou tratar sobre quais alimentos possuem estes elementos para que a substituição seja eficiente. Porém desde já é muito importante ressaltar que não existe nenhum alimento de origem vegetal que substitua completamente os nutrientes encontrados na carne, é necessário haver uma ampla pesquisa sobre esta demanda nutricional e a nova dieta que se deve ter para poder suprir todas as necessidades.
Conheça a alimentação vegetariana, a seguir o link de alguns pontos em Belém:
Veg Casa:
http://vegcasa.blogspot.com.br/
Govinda:
http://restaurantegovindabelem.blogspot.com.br/2010/05/o-melhor-da-culinaria-lacto-vegetariana.html
Outros:
http://vegetarianosemmovimento.blogspot.com.br/2010/06/restaurantes-lanchonetes-e-sorveterias.html
Autora: Madlene
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Muito bom o teu texto, inteligente, explicativo e sem romantismos. Concordei com quase todos os pontos, apenas discordei um pouco deste trecho "Então, se você se alimenta de carne, inevitavelmente estará estimulando esta produção.", pois parece transmitir parte da responsabilidade aos consumidores, quando penso que o governo e o setor industrial tinham que em conjunto pensar em soluções para a melhor distribuição alimentar. Partindo desse raciocínio, que posso estar enganada. Suponhamos que haja a diminuição do consumo de carne e maior produção de grãos, o que em tese poderia alimentar um número maior de pessoas. Fica a questão: Se pensarmos em relação de consumo, será que todos teriam acesso a esses alimentos? ou somente os que pudessem pagar por eles. Acredito que a má distribuição alimentar tenha mais haver com interesses econômicos do que sociais. Posso estar errada.
ResponderExcluirOi Carol, eu concordo contigo sim a respeito da tua opinião sobre o trecho "Então, se você se alimenta de carne, inevitavelmente estará estimulando esta produção.", eu escrevi este texto em 2012 e gostaria de poder incrementar mais assim que possível com tud que já li de lá pra cá, mas... Acredito que independente do tipo de alimentação que a sociedade adotar nem todos terão acesso, pois como falastes, temos muitos interesses econômicos em cima do mundo. Os grandes governos precisam manter a situação do submundo para dominar das mais diversas formas e criar a imagem que temos hoje, a África não é como é por causa somente da falta de acesso a alimentação, mas a falta de acesso a tudo que um ser humano necessita para viver. Não é uma nova revolução verde que vai solucionar o problema da humanidade, mas uma revolução política. Jamai haverá uma quebra total no consumo de carne, mas a ideia mais acessível é reduzir, aumentar a produção de vegetais, já que devemos ver pelo lado nutricional que a sociedade precisa e a própria questão educativa a nível alimentar, social e ambiental. Pois devemos sempre estar prontos a esclarecer a pergunta: "o que eu ganho com isso?"
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