domingo, 30 de dezembro de 2012

O Elogio da Loucura - Erasmo de Rotterdam (Parte 1)

Uma indicação de leitura para abrir a mente...

O Elogio da Loucura é um livro de Erasmo de Rotterdam, um humanista e teólogo que viveu durante a idade média, este livro é um ensaio escrito em 1509 e publicado em 1511. Erasmo nasceu em 1465 na cidade de Rotterdam, Holanda. Foi um intelectual que viveu em um convento onde se entregou aos vários clássicos da literatura greco-latina e ao mais diversos autores da Idade Média, sua época. Ordenado padre, teve contato com padres, bispos, papas, reis, cardeais, etc. Foi amigo de Thomas Morus, amigo a quem ele dedicou o prefácio de O Elogio da Loucura.

“Foi pelo fato de ter pensado, no início, em teu próprio sobrenome Morus, tão próximo ao da Loucura (Moria), quanto realmente longe dela estás e, certamente, é seu maior adversário, segundo o conceito que em geral dela se tem.” (carta a Thomas Morus)




Erasmo era cristão, porém com uma visão além de seu tempo para ver as falhas que existiam no fanatismo religioso e na opressão causada pela igreja católica, não esqueçam que ele era teólogo, e dos bons. Ele foi um dos responsáveis pelos pensamentos críticos da sociedade da época que foi base da Reforma Protestante. Agora vamos ao livro... Erasmo de Rotterdam não faz uma crítica apenas à religião fanática, mas também a muitos comportamentos e pensamentos da sociedade, não apena da sociedade da época, mas de um modo completamente atemporal, já que o maus costumes humanos não são perdidos.

O Elogio da Loucura


Segundo o Aurélio, a loucura é definida como um estado ou condição de louco, de insanidade mental. Buscando na internet achei esta definição: “A loucura ou insânia é uma condição da mente humana caracterizada por pensamentos considerados "anormais" pela sociedade. É resultado de doença mental, quando não é classificada como a própria doença. A verdadeira constatação da insanidade mental de um indivíduo só pode ser feita por especialistas em psiquiatria clínica.”

O Elogio da Loucura é uma total sátira a sociedade dos séc. XV e XVI, onde ele tinha por objetivo fornecer uma nova visão eclesiástica e renovar a igreja, pois tentou mostrar a sociedade um espelho de si mesma. Seu escrito acabou tornando-se atemporal, pois se você ler O Elogio da Loucura hoje, ainda verá uma sociedade vivendo com os mesmos males e problema em comum, a hipocrisia e a perda dos valores da vida ainda são constantes. A loucura, como a definição gramatical, é a insanidade mental, porém ele não define esse termo ao pé da letra, como uma condição humana que podemos adquirir, ele trata a loucura de uma forma externa ao homem, e o homem só será louco se desejar ser.

Em seu livro ele criou a "Deusa da Loucura", um divindade que metaforicamente é responsável por todos esses maus comportamentos humanos, ela se auto elogia de ser a única forma de fazer o homem sentir-se bem perante seus atos que afrontariam e afrontam as demais divindades, como a luxuria, o fanatismo, etc. A Loucura é filha de Plutão, ela conta sua origens neste trecho:

“Nasci de Plutão(...). Meu pai foi um Plutão ainda robusto, cheio do calor da juventude, e não somente por sua juventude, mas também, sem dúvida, pelo néctar que acabara de sorver avidamente ao goles no banquete dos deuses” (VII – A Origem da Loucura).

A Deusa da Loucura dá ao homem tudo o que ele quer e pode fazer, ela afronta o outros deuses que disponibilizam apenas "alguns favores" a humanidade. Por exemplo, seguindo os preceitos cristão o homem deve ser bom e evitar ao máximo ser corrompido com os devaneios da vida, a loucura entra nesse ponto, ela é a desordem e protege o homem por ter cometido tais atos, a Loucura exerce um poder que não é tirânico nem ditador, a Loucura é a própria alegria...o próprio delírio onde o homem eternamente encontrará o seu conforto. Neste post vou deixar alguns trechos e alguns comentários das partes que mais me chamaram a atenção durante esta leitura.

“Não ponho a máscara como aqueles que pretendem representar um papel de sábios e andam desfilando como macacos vestidos de púrpura e como asnos com peles de leão. Que se vistam com disfarces quando quiserem que suas orelhas sobressalientes sempre revelarão um Midas oculto.” (Capítulo V – A Sinceridade da Loucura)

O interessante da abordagem feita referente a Loucura é de que ela é a verdadeira Verdade, não há por que negar seus atos e sua verdadeira função perante à vida, os homens consideram a Loucura uma total insanidade para fugir de sua responsabilidades, é por este motivo que ela se auto elogia, pois o homem não a considera, por mais que esteja precisando dela durante cada segundo de sua vida. Este sentimento raiva da Loucura perante a atitude humana é mostrada neste trecho:

“Não posso deixar de registrar meu espanto pela ingratidão dos homens, ou por suas indiferenças. Todos há séculos gozam de minhas benesses, mas nunca houve um só homem que testemunhasse seu reconhecimento e elogiasse a Loucura.” (Cap. III – A Loucura se Auto- Elogia) .

Segundo a própria Loucura, ela é responsável pela perpetuação da espécie humana, pois as pessoas agem sem razão perante seus atos, que para nós são realizados com ávida consciência de que aquilo é o certo e melhor para si e para os outros. Esse foi um dos trechos mais satíricos que pude conferir no livro, interessante ver que ela trata a Irreflexão também como uma divindade e sendo sua serva:

“(...) Qual mulher haveria de procurar um homem, se refletisse melhor sobre os perigos inerentes ao fato de colocar um filho no mundo e criá-lo? Como vós deveis a vida ao casamento, deveis o casamento à minha serva, a Irreflexão.” (Cap. XI – A Loucura Perpetua a Espécie Humana).

É muito comum fazermos uma relação entre velhice e sabedoria, mas por que fazemos isso? Desde que criança vemos os grandes sábios da história em uma imagem típica, onde estão debruçados em livros ou em pensamentos vagam pelo mundo, são idosos que cultivam cabelos e barbas brancas como nuvens. Ao tratar deste assunto todo teremos algum intelectual em mente que colaboraram para mudar os pensamentos da humanidade ao longo dos séculos, como: Platão, Aristóteles, Galileu, Darwin, Nietzsche, Arquimedes, Da Vinci, Michellangelo, a assembleia dos anciões da Grécia Antiga, etc. Além desta imagem de velhice associada a sabedoria, ainda nos vem em mente uma reclusão social e dificuldade de relacionamento em que intelectuais se encontram. Segundo a Loucura, esses homens não a veneram, vivem totalmente a parte de seus benefícios e é por este motivo que a Loucura os critica, mais adiante no livro ela ainda trata a respeito das fraquezas que poderiam existir em um governo tecnocrata.

“Não observais por acaso, a pessoa melancólicas, mergulhadas na filosofia e nas dificuldades de suas ocupações, quase toda envelhecidas sem antes gozar de sua juventude.” (XIV – A Loucura Prolonga a Vida).

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