Esta postagem não é nada autoral, vou deixar aqui esporadicamente alguns poemas de Affonso Romanno, poeta que admiro muito. Grande parte de seus poemas não estão na internet, tenho eles porque há algum tempo comprei o livro "Affonso Romanno de Sant'anna - Poesia Reunida (1965-1999) Volume I.
Me dei ao doce trabalho de digitá-los para compartilhar com quem já é leitor desse blog, ou para aqueles que entraram sem querer ao realizar uma busca qualquer na internet.
A Morte da Baleia
(Affonso Romano de Sant'anna)
Na Paraíba, Nordeste do país,
Convidam-me a ver a morte da baleia.
Dizem: - pesca da baleia – como se dissessem: - jogar tênis
Ou qualquer outro esporte
Em que o animal
Participasse alegremente.
Dizem: - pesca da baleia – como se dissessem: - ir à missa, onde cristo morreria impunemente.
Dizem: - pesca da baleia – como e dissessem: - carnaval onde se brinca eternamente.
O espetáculo dura a noite toda
E quem assiste não pensa em assassinato
Pensa:
Vou como quem vai às compras
- ou algo semelhante, como - vou visitar parente
-ou ver filme interessante.
Ninguém diz: - vou ao enterro da baleia
- que em mim mato e morre a cada instante...
(...)
4- Deveria eu introduzir um pouco mais de humor nesta tragédia e dizer?
- No Nordeste do país convidam-me para um drama onde quem morre é a principal atriz.
Deveria eu distribuir um pouco mais de aço neste cangaço e dizer?
- Nos mares do sertão onde o sangue é agreste e aguardo a baleia é lampião que morre sempre sangrado.
(...)
E aquele que salva-vidas
Dela salvou seu olho
Num colar para Iemanjá.
Por isto a morte marítima, terrestre ou marginal
Desta baleia
Mais que metáfora
Ou pintura,
Mias que mostra multinacional de usura,
A qualquer hora que ocorra,
Além de um crime a se ostentar
É a nossa impotência na linha do horizonte,
Um modo colorido de trucidar a aurora
- e ensanguentar o mar...
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Este poema de Sant'anna é muito extenso, mas deixo aqui alguns trechos dele, e apenas por estas estrofes já é possível identificar a profundidade deste poema.
Não achei uma foto de uma caçada na Paraíba, porém esta foto é no Brasil entre as décadas de 50 e 70, extraí de um artigo que trata a respeito da Baleia Franca que foi amplamente caçada neste período.
"A caça às baleias, incluindo também a espécie da baleia franca, já foi antigamente na história do Brasil de grande importância na economia. O seu óleo, advindo do cozimento das gorduras presentes em sua carne, era utilizado para a iluminação, a lubrificação e na fabricação de argamassa para igrejas e fortalezas. Secundariamente, as suas barbatanas eram usadas para a fabricação de espartilhos, sendo este material semelhante a cordas rígidas e flexíveis. A caça foi tão intensa que em poucos séculos diminuiu enormemente a população de baleias francas até o final século XIX, levando-a quase à extinção. As povoações de “Lagoinha” (atual praia da Armação, Florianópolis), Garopaba e Imbituba retomaram a caça de forma rudimentar e esporádica, do começo do século XX até a década de 1950 e a de Imbituba, surpreendentemente, até 1973. A caça à baleia se afirmou como uma atividade de grande violência e crueldade, considerando-se o potencial senciente e emocional desses animais já afirmado cientificamente."
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