terça-feira, 6 de maio de 2014

Katsushika Hokusai - retrato de um gênio (Documentário Arte1)

Depois de um tempo sem postar aqui no blog, pretendo retornar a escrever meus amados textos. Estou com alguns textos escritos até a metade, com vários rascunhos e anotações para continuar ou começar, mas o tempo ocupado e o excesso de procrastinação compromete o trabalho intelectual “além-acadêmico”. E, hoje venho retomar as postagens como um tema rotineiro aqui no Itinerário Interno, e quem me conhece sabe deste meu fascínio: a arte oriental.
Sou fascinada pelo mundo das artes orientais, seja no teatro, dança, pintura, desenho, gravuras, etc. Esta arte tem algo que está presente somente nela, não seguindo filosofias vanguardistas, mas a presença de uma profundidade poética ao retratar o mundo.

Nesta quinta (01/05/2014) foi transmitido no canal Arte1 o documentário “Katsushika Hokusai: retrato de um gênio”, realizei algumas anotações e as incrementei com mais e mais pesquisas da web, e agora venho aqui compartilhar com vocês alguns pontos da vida e obra deste grandioso e um dos mais célebres artistas do período Edo.

Katsushika Hokusai (1870-1849) foi um dos artistas mais conhecidos do período Edo no Japão, consagrado no estilo ukiyo-e (Veja mais sobre ukiyo-e em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ukiyo-e) . Natural de Edo (atual Tokio), Hokusai possui uma série de obras, chegando a mais de 30 mil, dentre gravuras, xilogravuras, desenhos, livros, pinturas, etc. Uma de suas obras mais conhecida e agraciada mundialmente(e que você provavelmente já deve ter visto) é “A grande onda de Nakagawa (em japonês ‘Kanagawa oki nami ura)”. Vale ressaltar outras de suas obras que também são amplamente conhecidas como “As 36 vistas do Monte Fuji” e o “Caderno de desenho de Hokusai”.


Na coleção “100 retratos do Monte Fuji” estão presentes mais de 100 obras, dentre elas uma suas mais famosas: A grande onde de Nakagawa. Nesta coleção é possível ver várias visões diferentes do Monte Fuji, em vários ângulos e cores que variam ao longo do dia (manhã, tarde, por do sol, noite, neblina, etc).








Achei este texto de Hokusai em um blog, ele o escreveu aos 75 anos no prefácio de "100 retratos do Monte Fuji":
"Desde os cinco anos de idade que tive a mania de desenhar a forma das coisas. Desde os cinqüenta anos de idade que produzi um número razoável de desenhos, mas, no entanto, tudo o que fiz até aos setenta anos não é realmente digno de menção. Pelos setenta e dois anos de idade apreendi finalmente algo da verdadeiro da qualidade das aves, animais, insetos e peixes, e da natureza vital das plantas e árvores. Assim, aos oitenta anos de idade deverei ter já feito algum progresso. Aos noventa deverei ter penetrado ainda mais no mais fundo sentido das coisas. Aos cem anos de idade deverei ter-me tornado realmente maravilhoso e aos cento e dez anos cada ponto, cada linha que eu desenhe deverá possuir seguramente uma vida própria. Peço apenas que os homens de vida suficientemente longa tenham o cuidado de verificar a verdade das minhas palavras."

A grande onda de Nakagawa, como já disse ser uma de suas obras mais famosas (tem até um ícone no whatssapp), ela apresenta ao fundo o Monte Fuji. Nesta gravura é possível ver uma onda com cristas muito eminentes e a espuma branca da água formando como se fossem garras de um tigre, a onda parece estar em perfeito movimento. Para este documentário foi contatado um fotógrafo especialista em fotografar ondas no mundo inteiro, seu desafio foi fotografar uma onda em um ambiente artificial para verificar até em que ponto a nitidez da fotografia sairia semelhante a nitidez da extremidade da onda de Hokusai. Durante várias tentativas foi possível ver que as fotos não apresentavam a mesma nitidez que a obra de Hokusai na parte da espuma, somente em uma foto de 1/5000 seg foi possível identificar os detalhes da onda que se assemelharam muito a obra, como “garras”. Com isso é possível ver a genialidade de Hokusai ao representar os detalhes de uma onda que só pode ser visualizada hoje com instrumentos moderno de captação de imagens.


Outra obra sua que possui grande relevância é “O Monte Fuji Vermelho”, também fazendo parte da coleção “100 vista do Monte Fuji”, nesta obra é possível ver o monte Fuji em um tom avermelhado, o que é muito difícil de ser registrado por ser um fenômeno raro. Um especialista em fotografia e membro da “Associação de Fotografia do Monte Fuji Vermelho” explicou sobre este fenômeno. Segundo ele, a constituição rochosa do Monte Fuji normalmente não fica vermelha ao amanhecer, no entanto se molhar essa rocha ela adquire um tem avermelhado e se ela estiver molhada ao amanhecer o tom avermelhado se intensifica ainda mais. Em 2003 o fotógrafo Tomizuka Karuo conseguiu registrar uma imagem do Monte Fuji vermelho, nestas condições extraordinárias, o que se assemelhou em muito a obra de Hokusai.

Katsushika Hokusai foi um artista único, ele mudou seu nome artístico mais de 30 vezes ao longo da vida, segundo ele por estar em constantes mudanças, Aos 20 anos assinava em suas obras como Shunra, aos 30 como Sori, aos 60 como Lisio e aos 70 como “Pintor Velho e Louco”. Ele foi o artista com o maior número de nomes em Edo.Sua habilidade para o desenho teve inicio muito cedo, aos 6 anos de idade Hokusai já desenhava, aos 19 anos fez sua primeira obra com xilogravura onde representou um dos artistas mais famoso de Kabuki do seu período, nesta obra ele assinou como Shunro (seu nome artístico aos 20 anos).

Com o entrave estrangeiro em Nagasaki muito dos elementos ocidentais foram inseridos em sua obra, como sombras, profundidade e a assinatura em sílabas substituindo os caracteres japoneses. No entanto Hokusai não se rendeu totalmente a estas características ocidentais, pelo contrário, ele juntou com as suas características orientais e criou um estilo único.

Aos 50 anos de idade Hokusai entrou em um novo projeto, ele iniciou a obra “Caderno de desenhos de Hokusai”, composto de 15 volumes e mais de 4 mil desenhos de animais, plantas e figuras humanas. Estas pessoas que Hokusai desenhou possuem um estilo muito livre e representavam costumes e tradições comuns do período Edo, e se algumas delas fossem colocadas em série era possível ver um movimento entre as imagens, como lutadores de Sumô e dançarinos, simplesmente fantástico. Esta obra chegou a Europa no final do século XIV e foi ela uma das responsáveis por inserir o “japonismo” na arte europeia liderada no momento pelo Expressionismo.


Como já disse antes, Hokusai possuía um espírito livre e em constante mudança, sempre aberto a novas descobertas e aprendizados. Aos 80 anos possuía um porte físico muito bom para a sua idade, e seguiu em uma nova aventura: ir para a cidade de Obuji pintar a convite também muito conhecido pintor Takai Kosan. Ele fez até duas viagens a pé pelas montanhas até a cidade de Obuji, neste momento Hokusai entrou em uma nova fase de sua pintura: o forte emprego das cores vivas em sua obra. Nessa fase de sua vida Hokusai mesmo criava suas tintas e até escreveu um livro aos 88 anos intitulado “Sobre o uso das cores”, em Kyoto e Edo ninguém ainda havia empregado o uso das cores como ele nas artes.


No livro “Sobre o uso das cores” Hokusai deixou uma espécie de instrução para a pintura de algumas imagens, vale relembrar que nessa fase de sua vida ele estava utilizando amplamente cores vivas em suas obras, um exemplo é a Fênix pintada no teto do templo Ganshoin em Obuse. No documentário um artista japonês contemporâneo foi incumbido de colorir uma Fênix e uma orquídea presente no livro, seguindo as “dicas” de Hokusai no emprego das cores. O resultado foi fascinante, pois as cores presentes na orquídea se assemelharam muito aos tons fortes de Hokusai, no entanto ao colorir a Fênix o resultado foram tonalidades muito claras, ou seja, algo muito diferente ao que todos estão habituados com as obras de Hokusai. Seria genialidade ou algo proposital? Nunca iremos saber.

A última obra produzida por Hokusai foi feita e um pergaminho e consistia em um grande dragão girando e indo em direção ao céu, acredita-se que este dragão representava o próprio Katsushika Hokusai no fim de sua vida nos dizendo adeus.

Para saber mais sobre Hokusai, acesse o link do Artsy: https://www.artsy.net/artist/katsushika-hokusai

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