sábado, 2 de fevereiro de 2013

Um Conto Chinês - uma vaca, um chinês e um argentino.

Como uma vaca que caiu do céu poderia mudar o rumo da vida de duas pessoas?



Esta é uma frase que pode soar com um ar estranho ou de certa forma cômico, porém é uma história real que foi adaptada para o cinema, um filme argentino de 2011 sob direção de Sebastián Borensztein.O filme “Um conto chinês” trata da história de um argentino e um chinês que se uniram por uma vaca que caiu do céu, eles que estabeleceram uma forte amizade e um vínculo muito forte sem um entender sequer uma palavra do que o outro dizia... Uma história comovente e forte onde a comunicação se faz por gestos e olhares profundos.



Roberto é um homem solitário e arrogante que possui uma loja de ferramentas em Buenos Aires, ele é acostumado com sua rotina extremamente meticulosa (como dormir exatamente às 23hrs todos os dias), ele é totalmente misantropo e trata todo mundo quase sempre mau, somente se segura devido precisar de clientes para a sua loja. Roberto possui uma admiradora nada secreta, ela é Mari, cunhada de um amigo seu que é perdidamente apaixonada por ele desde o primeiro momento que o viu na casa de sua irmã... Ela em vão faz várias tentativas de aproximar-se de Roberto, porém sem êxito. Mari é um ponto fundamental para o rumo desta história também, pois em muito ela ajudou Roberto a avaliar seus atos e pensamentos sobre os outros e sobre si mesmo.

Jun é um chinês que vai para a Argentina atrás de seu tio, o Sr. Quian após um triste fato que ocorreu com ele: a morte de forma absurda de sua esposa após uma vaca cair do céu e lhe atingir violentamente enquanto eles passeavam em um barquinho em um lago... Jun, com o objetivo de esquecer esta situação vai com a “cara e a coragem” para a argentina sem saber uma palavra em espanhol, ele que não tem sequer nenhum parente além desse seu tio.
As vidas de Jun e Roberto se cruzam quando Jun é atirado de um taxi após ser assaltado pelo motorista. Roberto, por mais ranzinza que seja, se sentiu na necessidade de ajudar este pobre chinês desolado... Chegando até mesmo ao ponto de levá-lo para sua casa e hospedá-lo, a princípio, somente por esta noite.


Creio eu que um dos trechos mais cômicos deste filme é quando após o protagonista levar o chinês no consulado ele se vê em apuros, pois o consulado irá tentar localizar o tio dele, no entanto não disponibilizará alojamento... o que resta? Resta a Roberto hospedar o chinês por mais tempo. Não é de se surpreender que ele não gostou nada da ideia e literalmente foge do prédio... Mas Jun vai atrás dele, e, ao chegar na porta ele vê somente o carro se afastando e fica lá...triste, triste...Mas Roberto engole sua estupidez e volta para pegar Jun, indo contra sua adorável e inseparável misantropia.

“NÃO ESTOU ACOSTUMADO A TER COMPANHIA!”

Uma das cenas mais bonitas é totalmente simbólica... No primeiro dia em que o chinês esteve na casa de Roberto ele o deixava trancado no quarto de hóspede por um receio natural humano de ele não ser de confiança, porém do outro dia, após ele o mandar ir para o quarto, Jun entra, o Roberto fecha a porta, toca na chave...Reflete, mas não o tranca. Isso representa uma quebra no paradigma dos princípios do personagem que já começa a se sensibilizar e a se envolver com a triste história do chinês perdido na argentina e a acreditar que ele é alguém de confiança.


De tão incomodado com o fato desse hóspede inesperado, Roberto não sabe o que fazer para livrar-se dele, ele começa a entrar em algumas crises devido ter perdido um pouco de sua privacidade, então ele estabelece que Jun deverá passar somente 7 dias na sua casa, e após isso, deve ir embora... Os dias vão passando e eles não conseguem resultados positivos na busca pelo tio de Jun e cada vez mais Roberto não sabe o que fazer para livrar-se desse grande incômodo.

Jun é um ótimo rapaz que tenta a todo custo agradar Roberto, sendo trabalhador a respeitando seu espaço, realizando toda e qualquer tarefa que lhe for pedida. Ele se sente muito grato pelo fato do velho ranzinza estar lhe ajudando dia após dia.
Vale lembrar que Roberto possui um certo grau de TOC (transtorno obsessivo compulsivo), isto fica evidente na forma meticulosa de como ele sempre toma se café da manhã, a forma em que tira o miolo do pão ou o fato dele esperar exatamente vidrado no relógio chegar ás 23hrs em ponto para que assim ele apague a luz e vá dormir.

“ADOREI O TELEFONE TOCAR E UM CHINÊS DIZER QUE VIRÁ BUSCÁ-LO!”

“ISTO É DOCE-DE-LEITE, VOCÊS SE ESQUECERAM DE INVENTAR. POR ISSO NÓS INVENTAMOS!”

“OLÁ, BOM DIA! SEI QUE VOCÊS TÊM MAIS DE 5 MIL ANOS DE HISTÓRIA E UMA PACIÊNCIA INFINITA, MAS PRECISO IR ABRIR A MINHA LOJA...”


Este é o diálogo entre Roberto é um chinês quando ele vai no consulado procurar ajuda para solucionar o caso de Jun:
ROBERTO: PODERIAM FAZER A GENTILEZA DE ME ATENDER AGORA? PRECISO FALAR COM O R. PIN GA HION!
CHINÊS: ELE ESTÁ NA CHINA E SÓ VOLTA EM 2 MESES!
ROBERTO: PODERIA ME ATENDER QUEM ESTÁ NO LUGAR DELE?
CHINÊS: NÃO HÁ NINGUÉM PARA ATENDER, NÃO TEMOS GENTE!
ROBERTO: 1 BILHÃO E 300 MILHÕES DE CHINESES NO MUNDO E VOCÊS NÃO TÊM GENTE?? MAS QUE CARA DE PAU!!”

Em uma de suas crises de raiva, Roberto expulsa Jun de sua casa após ele quebrar por descuido toda a sua coleção de brinquedinhos de vidro que ficavam em uma estante. Roberto pega Jun, coloca ele em um táxi e pede para o motorista largar ele na rua central do bairro chinês. Após este fato Mari aparece e com poucas, porém profundas palavras, faz Roberto refletir sobre esse seu ato, sendo que ele falou a Mari que Jun foi embora por conta própria...


A partir deste ponto do filme é que a história toma um dos rumos mais fortes, pois é quando Jun vai procurar o chinês, uma situação violenta acontece com Roberto e Jun aparece na hora para ajudar. Roberto se mostra muito grato com Jun, lhe pede desculpas e muda seu modo de agir e pensar. Agora Jun vai descobrir o que realmente houve com Jun para que ele deixasse sua pátria e viesse parar em Buenos Aires. Coincidentemente ele descobre que conhece a história de Jun, pois ele coleciona notícias absurdas que saem em jornais e o caso da vaca que caiu do céu era uma delas... Somente há um diálogo compreensível devido a ajuda do rapaz que entrega comida chinesa saber espanhol e chinês e assim, poder servir como um rápido tradutor para Roberto e Jun.


Não posso falar sobre o que há de mais profundo, emocionante e o desfecho do filme, apenas deixo aqui o sabor da história, creio que quem assistir a este filme não se decepcionará. Uma história linda onde palavras não foram fundamentais, apenas a relação de amizade, confiança e gratidão criadas a partir de um “fato absurdo”.